(WAGNER BORGES – TEXTO 273)
Antigamente, nós éramos fortes. Estávamos repletos de ensinamentos transcendentais e praticávamos as
artes espirituais. Vivíamos de acordo com os preceitos iniciáticos e não nos
interessava o caminho das multidões desprovidas dos atributos da Iluminação.
Eles estavam perdidos no emaranhado de suas emoções e suas vidas eram
limitadas.
Mas nós éramos privilegiados e o
grande arcano nos abraçava e revelava a luz além das ilusões. Éramos iniciados
e nossa ventura estava no estudo das artes espirituais. Porém, havia em nós um
grande problema a ser solucionado e do qual não nos dávamos conta, muito embora
os mestres já houvessem nos advertido por várias vezes a esse respeito. A
questão era: quanto maior o acesso às verdades da
alma, maior a responsabilidade. Quanto mais profundo o grau iniciático, maior o respeito por quem sabe
menos e mais ainda por aqueles que rondam a vida perdidos na noite da
ignorância.
Por várias vezes, nós fomos
advertidos e esclarecidos quanto a isso, mas não adiantou. Nossa sede de
conhecimento era maior do que o nosso coração. Nossas mentes ansiavam por mais
ensinamentos e práticas, pois o mistério nos fascinava e precisávamos passar
pelos portais iniciáticos de acesso aos níveis superiores. Não percebíamos que o intelecto e a vontade sem o alicerce do amor para sustentá-los não
resistiriam às sabotagens internas de nossos egos.
Como não corrigíamos esse problema,
os mestres deixaram a dura tarefa desse ensinamento para o "Mestre
Tempo" acertar. Eles sabiam que seus discípulos arrogantes reencarnariam
muitas vezes e que as verdadeiras iniciações seriam realizadas no campo da
própria vida, templo de todos, e que as experiências mais importantes seriam em
meio às pessoas comuns. Como sempre, eles estavam certos.
O tempo cobrou seu preço e a roda de
samsara capturou-nos em seu giro probatório. Mergulhamos na ciranda reencarnatória e fomos aprendendo na marra as
lições da modéstia e do respeito aos outros. Caminhamos no meio da multidão e sentimos seus dramas. Percebemos a dor
do vazio espiritual e choramos de saudade da época em que vivíamos sob aquela
atmosfera espiritual de outrora.
Nós, os iniciados de outrora,
estávamos vivendo no meio da multidão de profanos e aprendendo com eles a arte
da humildade. Para a vida, nós não éramos
iniciados, éramos apenas um grupo de pessoas que teve acesso aos conhecimentos
espirituais e apenas aumentou o ego do conhecimento e não o amor que liberta e
leva à plena sabedoria, muito além dos graus iniciáticos.
No meio do povo aprendemos, vida após
vida, que sem amor ninguém segue - Que as maiores iniciações ocorrem mesmo é no "Templo do Coração";
- Que os ensinamentos espirituais precisam ser aplicados na prática do viver
diário e que o campo de provas é a própria existência; - Que os grandes iniciados não almejam o
desenvolvimento dos poderes parapsíquicos, mas apenas servir ao Grande Plano de
Progresso das Muitas Humanidades; - Que os mestres nos acompanham invisivelmente e nos inspiram pensamentos e
sentimentos benéficos; - Que todo homem é nosso irmão e parceiro de evolução; - Que todos merecem nosso respeito porque
carregam o divino dentro do coração, mesmo que não saibam disso.
O tempo nos ensinou bem o valor das
lágrimas vertidas no cadinho da ex-periência regeneradora. Hoje somos fortes
realmente, por amor! O véu de maya foi erguido e nós vimos o PAI-MÃE de todos
brilhando em cada ser.
Percebemos o TODO em tudo! O Amor é maior do que os nossos graus iniciáticos. O TODO é o hierofante de todos os seres. Somos seus eternos neófitos. E a multidão que caminha na noite da ignorância é nossa irmã e precisa
apenas do nosso serviço de esclarecimento espiritual, não de nossa arrogância e
desprezo.
Estamos no campo de provas da Terra,
mas pela ação do Tempo e do Amor somados à paciência de nossos mestres
invisíveis. Não ambicionamos mais nenhum grau iniciático, apenas queremos
aumentar o grau de compaixão e servir aos ditames da Luz.
Apenas corrigindo o início desse texto, não éramos
fortes realmente, éramos só ambiciosos. Hoje somos fortes de verdade, por Amor! E todos os homens, profanos ou
iniciados, são nossos irmãos de caminhada. E o TODO está em Tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário