De acordo com numerosos filósofos, só há um método de
criatividade interna - a meditação (que é aprender a dar atenção, a ser
desapegado e agir como testemunha do melodrama contínuo dos padrões de
pensamento).
Para romper
com a existência no nível do ego, precisamos identificar com certa precisão o
que está acontecendo em nossa vida diária, reconhecer, talvez dolorosamente,
como nosso apego aos hábitos nos manobra. Ou, para abrir-se para o amor,
podemos focalizar a atenção em nossos relacionamentos com o mundo. Ou, quem
sabe, poderemos querer contemplar a realidade. Todas essas técnicas requerem
prática básica em sermos atentos e desapegados. A meditação nos ensinar isso.
Entre as
muitas formas de meditação, a mais comum é praticada sentado. Se mantivermos a
atenção na respiração (com os olhos fechados ou abertos), na chama de uma vela
ou no som de um mantra (em geral cantado com os olhos cerrados), ou em qualquer
objeto, estaremos praticando meditação com concentração. Nessa prática, em
todas as ocasiões em que a atenção vagueia e surgem pensamentos, como
invariavelmente acontece, gentil e persistententemente trazemos a atenção de
volta ao foco, mantendo unidirecionalidade para transcender o pensamento, para
mudá-lo do primeiro para o segundo plano da percepção.
Em outra
forma, denominada meditação de percepção, o próprio pensamento - na verdade,
todo o campo da percepção - torna-se o objeto. O princípio em jogo aqui é que
se permitirmos que a atenção observe livremente o fluxo de pensamentos, sem
fixar-se em qualquer pensamento particular, ele permanecerá em estado de
repouso, no tocante ao desfile dos pensamentos. Esta forma de meditação pode
nos permitir uma visão desapegada, objetiva, de nossos padrões de pensamento
que, eventualmente, nos permitirá transcendê-los.
A diferença
entre concentração e meditação de percepção pode ser compreendida invocando
para o pensamento o princípio da incerteza. Quando pensamos em nossa maneira de
pensar, o pensamento individual (a posição) ou fluxo de pensamento (o momentum)
torna-se vago ou incerto. À medida que a incerteza sobre o pensamento
individual torna-se progressivamente cada vez menor, a incerteza no fluxo do
pensamento tende a tornar-se infinita. Desaparecida a associação, tornamo-nos
centralizados com o aqui agora.
Na meditação
com percepção, a incerteza na associação é que se torna progressivamente cada
vez menor, levando-nos a perder o aspecto ou conteúdo do pensamento. Uma vez
que o apego resulta do conteúdo do pensamento, se o conteúdo desaparece, o
mesmo acontece com o apego. Tornamo-nos observadores desligados, ou
testemunhas, de nossos padrões de pensamentos.
do livro:
O Universo Autoconsciente
Amit Goswami
Ed. Rosa dos Tempos